domingo, 9 de fevereiro de 2014

Aos amigos - Parte 1

Ontem à noite, ouvindo a Rita Lee naquela versão da música dos Beatles (Minha Vida) e agora, ouvindo Oswaldo Montenegro (A Lista), decidi começar a escrever sobre nossos amigos. Não estaríamos aqui se não fossem por eles, sem dúvida nenhuma. Em alguns momentos decisivos, estes amigos formaram um tipo de suporte onde o nosso casamento pode se apoiar para crescer ou foram especialmente importantes em nossa formação como pessoas. Tanto eu quanto a Rosana temos um amor profundo por muitas pessoas que pouco ou nunca conviveram com o casal.
Dias desses a minha irmã Gilda me mandou a foto do Júlio Tokeshi, o japonês mais doido que tive o prazer de conviver. Conheci o Júlio no Centro Educacional em torno de 75 (acho), estudamos juntos mas não ficamos muito próximos. Ele foi meu pai numa peça na 7ª série mas não nos falávamos muito. Mas em 82 e 83 estudamos no CNEC (2º e 3º anos do 2º grau). Daí, junto com o Adilson e o Luis, formamos um grupo de amigos que me ajudou a amadurecer e viver a atmosfera da adolescência. Não fizemos nada de especial além de viver este tempo tão maravilhosamente bonito e confuso (o que não é pouco). O Júlio dirigia uma Caravan branca linda, às vezes uma Rural muito engraçada (bom, eu achava o carro engraçado com o japonês dentro)... a partir de 84, nós nos vimos com pouca frequência. Aí, deve fazer uns 15 anos, o Júlio me deixou uma lição muito importante: como a morte de um amigo, mesmo daquele que não vimos a tempos, toca fundo no coração, nos lembrando de como as pessoas são importantes e de como devemos aproveitar bem o tempo (muito pequeno) que temos juntos uns dos outros. O coração dele parou e ele foi na frente para um lugar onde todos iremos. Ver a foto do Júlio como eu me lembrava dele foi muito bacana.
Adilson, eu, Luis e o Corcel II do seu Edson, pai do Adilson.

O tempo vai passando e as pessoas vão passando umas pelas outras. E nesse movimento contínuo, acho que a grande diferença entre os laços com nosso núcleo familiar e os laços que criamos com os amigos é a escolha. Podemos escolher ser amigos de nossos filhos, esposa, primos, irmãos, mas nunca vamos poder apagar o laço de parentesco. Um irmão será irmão para sempre, mesmo não havendo a identificação e proximidade. Mas ter um amigo é um processo consciente, uma escolha pessoal e intransferível. A manutenção desta relação, de forma interna (lembrando dos motivos pelos quais elegemos uma pessoa como amigo) ou externa (o contato com esta pessoa, seja físico ou à distância) é uma rotina necessária. O facebook facilitou muito este processo mas temos que ter atenção para não banalizar ou artificializar (acho que esta palavra não existia até agora...) as relações.
Em nossa caminhada como indivíduos e casal, conhecemos pessoas que compartilharam/compartilham conosco sonhos e realizações, experiências e aprendizados, alegrias e tristezas, conquistas e dificuldades. O cotidiano, como uma maré interminável, nos aproxima ou afasta das pessoas com as quais temos laços que não se dissolvem, nem com a distância, nem com a morte, nem com o tempo. A vocês, nossos amigos, um MUITO OBRIGADO pelo amor a nós dedicado, pelo carinho do abraço, do olhar, do incentivo, da parceria. Prometo tentar ser mais claro no dia a dia sobre esta gratidão e carinho. Talvez o Júlio não tenha percebido o quanto foi importante para mim. Mas acho que, agora, ele sabe.

Minha Vida - Rita Lee

Tem lugares que me lembram minha vida, por onde andei. As histórias, os caminhos, o destino que eu mudei
Cenas do meu filme em branco e preto, que o vento levou e o tempo traz. Entre todos os amores e amigos, de você me lembro mais 

Tem pessoas que a gente não esquece, nem se esquecer. O primeiro namorado, uma estrela da TV. Personagens do meu livro de memórias que um dia rasguei do meu cartaz. Entre todas as novelas e romances, de você me lembro mais

Desenhos que a vida vai fazendo, desbotam alguns, uns ficam iguais. Entre corações que tenho tatuados, de você me lembro mais. De você, não esqueço jamais.

A Paz de Cristo a todos. Até a próxima.

Um comentário:

  1. Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

    A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

    A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

    Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

    Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

    Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

    Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

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