Em julho de 1993, fomos de vez para a Fundação Bradesco (FB). Colocamos as coisas na Brasília e, provavelmente, em um caminhão (nós não conseguimos lembrar...rs) e fomos para a BR262 . São 250 km com muito mato e poucas cidades. Um percurso que faríamos muitas e muitas vezes até 1999.
O fato curioso dessa ida para a FB é que, quando fomos levar a Rosana em junho, o Tio Miro e a Tia Áurea, sempre prestativos e parceiros, emprestaram o carro (não me lembro exatamente qual era, sei que era SW) e o nosso primo Roberto foi dirigindo. Quando chegamos em Miranda, o motor do carro fundiu! O Roberto teve que voltar de ônibus e o carro ficou em Miranda. O Roberto, acho, nunca chegou a ir para lá...
Bom, não lembramos exatamente o dia da chegada. Como toda a mudança, certamente foi uma grande confusão de caixas, eletrodomésticos, roupas.... algo bem cansativo. Pela primeira vez, eu e a Rosana estávamos sozinhos em uma casa. Na entrada da escola, uma guarita com guarda 24 horas; uma rua de, mais ou menos, 400 metros levava às instalações. A escola é em formato de ferradura e ficava toda à direita da entrada. As ruas eram todas sem asfalto.
A FB tinha três tipos de moradias: os alojamentos masculinos e femininos, que abrigavam 40 alunos; as casas do Diretor e Vice; e as casas de funcionários, em blocos de 4 moradias, germinadas e exatamente iguais. O piso era frio (à noite, pois o calor era de suar vapor...). Olhando de frente, a sala ficava à esquerda (com uma pequena varanda) e a área de serviço à direita (tinha um muro com tijolos deitados e dispostos de tal forma que haviam espaços abertos). Nossa casa tinha uma primavera gigante na frente, com grama e um banco de madeira bem característico de lá.
Olhando o bloco de frente, da esquerda para a direita, na época da nossa chegada, moravam: na 1ª casa, alguém de quem não lembramos (depois veio o Zé Ronaldo, dentista, sua esposa Rubia e o filho deles, o Rafael); na 2ª casa, uma república masculina em que morava o Teixeira, colega da educação física (ficou na casa até irmos embora), o Ricardo, veterinário e um funcionário super gente boa de quem eu não lembro o nome agora; a nossa era a 3ª; na 4ª casa, o Valdemar, a esposa (não lembramos o nome dela, infelizmente) e o filho deles, Davi, que na época devia ter uns 7 anos.
A primavera e o banquinho - Rosana esperando o Hugo
O nosso bloco era o primeiro de um grupo de uns 12 blocos; entre um bloco e outro, uma pequena rua. Assim, tínhamos a frente do bloco de trás de frente para as janelas dos nossos quartos (isso ficou meio confuso...rs). À frente de nossa casa, uma visão muito linda: um gramado enorme, árvores pingo de ouro, uma visão ampla com um céu maravilhoso.
As outras construções da FB: o prédio da administração, o da escola, o refeitório, o Clubinho (para recreação das crianças), o hospital, a lavanderia, a oficina, as 4 quadras poliesportivas, o prédio da sala de materiais de educação física e banheiros, o campo de futebol, o Clube dos funcionários. Também existiam as instalações específicas para o manejo de animais (estábulo, pocilga, granja, matadouro de frangos) e uma horta gigante.
Essa foi tirada bem tarde da noite....
Uma característica do local era a água salobra (com muito calcário). Fiquei especialista em trocar resistência de chuveiro pois o acúmulo de calcário nas resistências era absurdo. No máximo, em 10 dias a gente tinha que tirar a resistência e colocar em ácido para limpeza. Não tinha jeito. Eu me adaptei rápido a beber a água com calcário mas a Rosana saiu de lá sem se adaptar... não teve jeito.
A FB está em todo o Brasil. Porém, internatos como esse eram (ou são, não tenho certeza) apenas 2: o de Bodoquena, em Miranda, e Canuanã, na Ilha do Bananal, no Tocantins. O de Bodoquena é uma estrutura gigantesca pois são mil alunos e cerca de 200 funcionários. À época, todos podiam fazer tomar café da manhã, almoço e lanche, jantar no refeitório (uma das grandes vantagens era não precisar fazer comida - uma possibilidade de economia legal). Os alunos tinham, além das 3 refeições, 3 lanches (um de manhã, um à tarde e outro à noite). Todos os uniformes eram lavados em uma lavanderia industrial. Aliás, os alunos não podiam usar roupa de casa. Recebiam, também, calçados (botas, tênis, chinelos) e material de higiene pessoal. Então, a estrutura era absurdamente grande.
Era nesse sistema fechado e gigante que estávamos nos inserindo. Muitas histórias foram vividas lá e vamos tentar lembrar das mais significativas.
Paz de Cristo a todos!