domingo, 14 de setembro de 2014

FB - o começo

Em julho de 1993, fomos de vez para a Fundação Bradesco (FB). Colocamos as coisas na Brasília e, provavelmente, em um caminhão (nós não conseguimos lembrar...rs) e fomos para a BR262 . São 250 km com muito mato e poucas cidades. Um percurso que faríamos muitas e muitas vezes até 1999.

O fato curioso dessa ida para a FB é que, quando fomos levar a Rosana em junho, o Tio Miro e a Tia Áurea, sempre prestativos e parceiros, emprestaram o carro (não me lembro exatamente qual era, sei que era SW) e o nosso primo Roberto foi dirigindo. Quando chegamos em Miranda, o motor do carro fundiu! O Roberto teve que voltar de ônibus e o carro ficou em Miranda. O Roberto, acho, nunca chegou a ir para lá...

Bom, não lembramos exatamente o dia da chegada. Como toda a mudança, certamente foi uma grande confusão de caixas, eletrodomésticos, roupas.... algo bem cansativo. Pela primeira vez, eu e a Rosana estávamos sozinhos em uma casa. Na entrada da escola, uma guarita com guarda 24 horas; uma rua de, mais ou menos, 400 metros levava às instalações. A escola é em formato de ferradura e ficava toda à direita da entrada. As ruas eram todas sem asfalto.

A FB tinha três tipos de moradias: os alojamentos masculinos e femininos, que abrigavam 40 alunos; as casas do Diretor e Vice; e as casas de funcionários, em blocos de 4 moradias, germinadas e exatamente iguais. O piso era frio (à noite, pois o calor era de suar vapor...). Olhando de frente, a sala ficava à esquerda (com uma pequena varanda) e a área de serviço à direita (tinha um muro com tijolos deitados e dispostos de tal forma que haviam espaços abertos). Nossa casa tinha uma primavera gigante na frente, com grama e um banco de madeira bem característico de lá.

Olhando o bloco de frente, da esquerda para a direita, na época da nossa chegada, moravam: na 1ª casa, alguém de quem não lembramos (depois veio o Zé Ronaldo, dentista, sua esposa Rubia e o filho deles, o Rafael); na 2ª casa, uma república masculina em que morava o Teixeira, colega da educação física (ficou na casa até irmos embora), o Ricardo, veterinário e um funcionário super gente boa de quem eu não lembro o nome agora; a nossa era a 3ª; na 4ª casa, o Valdemar, a esposa (não lembramos o nome dela, infelizmente) e o filho deles, Davi, que na época devia ter uns 7 anos.
A primavera e o banquinho - Rosana esperando o Hugo

O nosso bloco era o primeiro de um grupo de uns 12 blocos; entre um bloco e outro, uma pequena rua. Assim, tínhamos a frente do bloco de trás de frente para as janelas dos nossos quartos (isso ficou meio confuso...rs). À frente de nossa casa, uma visão muito linda: um gramado enorme, árvores pingo de ouro, uma visão ampla com um céu maravilhoso. 

As outras construções da FB: o prédio da administração, o da escola, o refeitório, o Clubinho (para recreação das crianças), o hospital, a lavanderia, a oficina, as 4 quadras poliesportivas, o prédio da sala de materiais de educação física e banheiros, o campo de futebol, o Clube dos funcionários. Também existiam as instalações específicas para o manejo de animais (estábulo, pocilga, granja, matadouro de frangos) e uma horta gigante.


Essa foi tirada bem tarde da noite....


Uma característica do local era a água salobra (com muito calcário). Fiquei especialista em trocar resistência de chuveiro pois o acúmulo de calcário nas resistências era absurdo. No máximo, em 10 dias a gente tinha que tirar a resistência e colocar em ácido para limpeza. Não tinha jeito. Eu me adaptei rápido a beber a água com calcário mas a Rosana saiu de lá sem se adaptar... não teve jeito.

A FB está em todo o Brasil. Porém, internatos como esse eram (ou são, não tenho certeza) apenas 2: o de Bodoquena, em Miranda, e Canuanã, na Ilha do Bananal, no Tocantins. O de Bodoquena é uma estrutura gigantesca pois são mil alunos e cerca de 200 funcionários. À época, todos podiam fazer tomar café da manhã, almoço e lanche, jantar no refeitório (uma das grandes vantagens era não precisar fazer comida - uma possibilidade de economia legal). Os alunos tinham, além das 3 refeições, 3 lanches (um de manhã, um à tarde e outro à noite). Todos os uniformes eram lavados em uma lavanderia industrial. Aliás, os alunos não podiam usar roupa de casa. Recebiam, também, calçados (botas, tênis, chinelos) e material de higiene pessoal. Então, a estrutura era absurdamente grande.

Era nesse sistema fechado e gigante que estávamos nos inserindo. Muitas histórias foram vividas lá e vamos tentar lembrar das mais significativas.

Paz de Cristo a todos!

sábado, 6 de setembro de 2014

1993 - indo para a FB

Depois que conheci a Fundação Bradesco - Escola de Bodoquena na apresentação do Arte Boa Nova, fiquei com a percepção de que seria interessante experimentar uma vivência como essa. Na época, comprar uma casa era um sonho muito distante. Tínhamos olhado várias opções; quase compramos um apartamento que estava sendo tomado pela Caixa Econômica Federal (procurávamos bastante imóveis deste tipo, onde o comprador não conseguia pagar as prestações e a CEF disponibiliza a valores mais acessíveis). Financiamento imobiliário era uma aventura muito perigosa pois ainda nem havíamos saído dom processo de hiperinflação. Comprar qualquer coisa financiada era uma ideia muito estranha: eu e a Rosana crescemos em um mundo onde as coisas tinham um valor de manhã e à noite estavam mais caras (literalmente). Overnight, gatilho salarial, hiperinflação, maquina de remarcar preços... tudo isso desestimulava pensar em comprar algo a longo prazo. 

Assim, a compra da casa própria foi o motivo pelo qual a Rosana topou sair de Campo Grande. Até havíamos comprado uma casa na saída de São Paulo (até hoje é longe), mas não mudamos pra lá. Acabamos vendendo pouco tempo depois de comprar pois a Rosana não quis mudar para longe do centro. Hoje vejo como ela estava certa.

Recebemos o convite para levar o currículo para a Fundação. Haviam três vagas de professor de Educação Física. Á época, estava saindo um casal de professores (acho que era Luis - o nome da esposa eu não lembro) e tinha sido criada uma vaga pois eram mil alunos e muitas atividades a serem desenvolvidas, incluindo fim de semana. Fomos levar o currículo em fevereiro ou março. Entramos no brasília bege que tínhamos e pegamos a estrada. 250km de muito mato e poucas cidades (Terenos, Aquidauana, Miranda, FB). O nosso querido amigo Jorge Henrique Franco Godoy foi conosco. Fomos conhecer a escola, falamos com a Diretora, fomos sair e... que chuva! Fui manobrar o fusquinha e a as rodas traseiras cairam em uma vala na frente da escola. Não sei exatamente de onde, saíram uns 15 homens de vermelho, na chuva torrencial, e ergueram o fusquinha da vala (que estava cheia d'agua)... esses 15 "homens" eram alguns dos alunos da escola, um povo maravilhoso e que em pouco tempo faria parte da nossa vida para sempre...

Uma vaga estaria disponível a partir de junho. O Jorge acabou não indo; eu trabalhava em escola particular e era um risco abrir mão de uma vez; a Rosana era concursada no estado e poderia se afastar durante alguns meses. Assim, ela foi para a FB antes que eu. Desse jeito, podíamos entender o que era aquele lugar, suas oportunidades e ameaças, se valeria a pena irmos.

A Rosana, para variar, encarou com muita coragem mais este desafio que a vida apresentava. Anos antes, havia encarado uma viagem muito arriscada, que era sair de Piraju e ir morar sozinha em Campo Grande, apenas com uma amiga e sem conhecer ninguém. Então, ela não teve problemas de se aventurar mais uma vez, mesmo que com um nó na garganta já que ela AMA Campo Grande (quantas vezes eu não ouço esta frase????rs). Ficou na casa da Dnª Eli, Diretora da escola, e mãe de 3 filhos - não lembro o nome de um (jogava futebol na época e estava morando fora), do Jean (amigo da UFMS que morava em Campo Grande e hoje está em Fortaleza) e do Chico (acho que hoje é advogado e é da PF), que morava com ela e é uma criatura maravilhosa, uma pessoa fantástica e que temos um carinho muito grande (e quem segura o basset, Chico?).

Uma passagem ficou marcante: na primeira sexta em que a Rosana estava na FB, fui visitá-la. Era festa junina no Arlindo Lima, escola municipal em que eu trabalhava. Esta escola fica na esquina do Centro Educacional, onde eu estudei da 2ª a 7º série. Para mim, era legal trabalhar em uma escola que eu via desde pequeno. Neste dia, fazia frio. Entrei na brasília e táca-le pau. Fui ouvindo as fitas cassete que eu tinha no carro e curtindo dirigir à noite para encontrar meu amor.... quantas vezes eu não faria isso depois? Deixei as abertura para ventilação abertas e uma delas estava bem na direção do meu joelho esquerdo. Foram quase 3,5 horas de viagem. Quando eu cheguei, quase não consegui dormir por conta da dor que eu sentia. Mas estava feliz de ver que a Rosana não ficou muito em pânico... só um pouco....rs

Em julho, saí dos empregos que tinha e fui para o Pantanal Sulmatogrossense passar os próximos 6 anos e meio da nossa vida que nunca mais seria a mesma. 

Paz de Cristo a todos!!!